quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Água Salgada como Combustível para Carros



No futuro, você poderá ver um bando de gaivotas perdidas pairando em volta de seu posto de gasolina local. A razão disso é que, em vez de gasolina, os postos poderão estar cheirando como se fosse a praia. Isso depende das coisas darem certo para uma invenção criada por uma pessoa chamada John Kanzius, que criou um combustível alternativo tirado da água salgada. Por meio de uma descoberta absolutamente casual, Kanzius, um engenheiro de comunicação aposentado, descobriu uma coisa interessante: sob as condições apropriadas, a água salgada pode queimar a temperaturas incríveis. Com alguns ajustes, ela poderá servir como combustível alternativo para nossos carros no futuro.
Imagem cedida pela WPBF-TV - Sim, você está vendo a água queimar!
A jornada de Kanzius até chegar a essa inspiração surpreendente começou com o diagnóstico de uma
leucemia em 2003. Já prevendo a possibilidade de uma quimioterapia que poderia deixá-lo debilitado, ele decidiu que inventaria uma alternativa melhor para destruir as células cancerosas. Ele propôs usar seu gerador de radiofreqüência (RFG) e uma máquina que gera ondas de rádio e as focaliza em uma área concentrada. Kanzius usou o RFG para aquecer pequenas partículas metálicas inseridas nos tumores, destruindo-os sem danificar as células normais.
Mas o que um tratamento de
câncer tem que ver com água salgada como combustível?
Durante uma demonstração do RFG, um observador notou que o aparelho estava fazendo com que a água dentro de um tubo de ensaio ficasse condensada. Se o RFG podia fazer a água condensar, teoricamente poderia separar o sal da água do mar. Talvez, assim, ele pudesse ser usado para dessalinizar a água, um assunto de proporções globais. O provérbio do velho marinheiro "Água, água por todos os lados e nem uma gota para beber" pode ser aplicado internamente da mesma forma - algumas nações estão ficando sem água e suas populações estão morrendo de sede, apesar de o mundo ser formado por 70% de água do oceano. Um meio eficaz de remover o sal da água salgada poderia salvar inúmeras vidas. Portanto, não é surpresa que Kanzius tenha preparado seu RFG voltado para a dessalinização da água salgada.
Durante seu primeiro teste, contudo, ele notou um efeito colateral surpreendente. Quando Kanzius apontou o RFG para um tubo de ensaio cheio de água do mar, ele produziu faíscas. Essa reação não é normal para a água.
Kanzius tentou testar novamente, dessa vez acendendo uma toalha de papel e colocando-a em contato com a água enquanto a água estava no caminho do RFG. Ele teve uma surpresa maior ainda: o tubo de ensaio se inflamou e permaneceu aceso, enquanto o RFG ficou ligado.

As notícias da experiência chegaram com a alegação de ser uma espécie de piada, mas depois que os químicos da Universidade Penn State tiveram acesso ao RFG e fizeram suas próprias experiências, constataram que realmente era verdade. O RFG podia inflamar e queimar a água salgada. A chama podia atingir temperaturas tão altas quanto 1.650 graus Celsius e queimar enquanto o RFG estivesse ligado e apontado para ela.
Mas como é possível inflamar a água salgada? Por que os sujismundos descuidados que atiram pontas de cigarros acesos no mar não colocam todo o planeta em chamas? Tudo tem a ver com o hidrogênio. Em seu estado normal, a água salgada tem uma composição estável de cloreto de sódio (o sal), hidrogênio e oxigênio da água. As ondas de rádio do RFG de Kanzius, porém, rompem a estabilidade, desintegrando as ligações que mantêm as substâncias químicas da água salgada unidas. Isso libera as moléculas do hidrogênio volátil e o calor do RFG as inflama e queima indefinidamente.
Então, nossos carros logo estarão funcionando com água salgada em vez de gasolina? Pode ser que sim. Primeiro, existem algumas barreiras a serem superadas.

Quase todo processo elétrico ou químico libera algum tipo de energia - por exemplo, na forma de calor. Em fontes de energia, o objetivo é criar mais energia do que é usada no processo. Quando você observa a pouca quantidade de fontes de energia que podem produzir mais energia do que requer seu processo, a dificuldade de tal indagação - e a frustração enlouquecedora que a acompanha - torna-se mais clara. Isso tem um pouco que ver com alquimia - a possibilidade de transformar metais comuns em metais preciosos.
É encorajador, porém, que os químicos da Universidade
Penn State, ao fazerem experiências com o RFG, tenham descoberto que o processo de Kanzius produz quantidades diferentes de energia calorífica de concentrações diferentes de água salgada. Talvez a resposta para a relação de energia esteja na quantidade de sal. Um outro sinal positivo é que o processo não exige que seja usada a água do mar: ele também funciona adicionando sal à água potável. Se usarmos água salgada no futuro, as nações isoladas do mar não precisarão entrar em conflito com países litorâneos para sua obtenção.
Como
Isaac Newton e sua maçã que caiu ou Alexander Fleming e suas esporas de penicilina acidentais, John Kanzius deparou-se com sua descoberta. Diferentemente de Newton e Fleming, porém, Kanzius está ainda para ser validado pela história. Até que a relação entre entrada versus saída de energia possa ser superada - se isso realmente puder ser feito -, a empolgante descoberta de Kanzius permanecerá como está agora: uma descoberta empolgante. Com uma grande universidade por trás desse aparelho, porém, o RFG de Kanzius não será esquecido. O inventor do RFG também pode ter a chance de pesquisar outras aplicações para sua máquina. Se as distorções do RFG puderem ser contornadas, a máquina poderá fazer de Kanzius um mago de cartola: ela poderá promover a solução da sede global, aliviar a crise de energia e curar o câncer. Em termos de entrada versus saída, isso não é nada desprezível.

 (HOW STUFF WORKS BRASIL, http://carros.hsw.uol.com.br/combustivel-agua-sal.htm, 24/10/08).

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